Carta de Dom Paulo ao povo de Deus

 

São Mateus-ES, 29 de abril de 2020
“O Povo que andava nas trevas viu uma grande luz” (Mt 4,16)

Querido povo santo de Deus, o saudoso padre Léo já nos dizia: “A presença física é a mais pobre das presenças”, pois mesmo estando próximo do outro, eu posso me tornar indiferente. A distância física nem sempre nos torna mais distantes. Neste tempo de pandemia da Covid -19 a nossa rotina foi alterada: a igreja, o trabalho, a escola, a vida social, tudo foi radicalmente transformado. Fomos impedidos de nos encontrar, de manifestar afeto e carinho do “jeito brasileiro”, como gesto concreto em defesa da vida, ficamos em nossas casas e delas fizemos uma comunidade de amor, uma “igreja doméstica”, sem perder os laços com a família maior: o mundo.

Com dificuldade e sofrimento, em solidariedade com toda a humanidade, a Igreja também adotou medidas para preservação da vida e da saúde de todos, mas como pastor desta porção do povo santo de Deus, estive e estou em profunda comunhão com cada presbítero, religioso, religiosa, seminarista e cada membro das famílias, comunidades e paróquias por meio da oração e da Eucaristia. Não há missa sozinho, pois como dizia São João Paulo II “A Eucaristia é sempre celebrada, de certo modo, sobre o altar do mundo” (EE), por isso com amor paternal os tenho comigo em íntima comunhão cotidianamente.

Estamos no tempo Pascal, o qual celebramos a alegria da ressurreição de Jesus, Nosso Senhor. Fomos preenchidos pela luz radiante do ressuscitado, que resplandeceu na aurora do primeiro dia. É a vida que vence a morte. Esta esperança de vida e renovação também nos motiva na certeza de dias melhores, de que tudo isso vai passar e poderemos nos reencontrar, nos abraçar, celebrarmos juntos e redescobrirmos com encanto a alegria de sermos membros da mesma família, irmãos e irmãs, filhos e filhas do mesmo Deus, habitando na mesma casa comum.

Este tempo de pandemia e isolamento social tornou-se para cada um de nós uma verdadeira quaresma. Tempo de conversão e mudança de vida. Tempo de revermos conceitos e preconceitos. Para muitos neste período, ao visitar a sua arte emotiva, que sufoca a razão, no desespero, no sofrimento ou no silêncio do deserto interior, começaram a se dar contas, que a conversão nem sempre vem por amor, mas muitas vezes pela dor. Na experiência da casa, a “Igreja doméstica” temos a oportunidade de experimentar uma verdadeira revisão de vida e reencontrar os valores cristãos, morais e éticos em muitos perdidos. E na relação face a face que este tempo nos propicia, podermos redescobrir os traços de Cristo em cada criatura, criados a sua imagem e semelhança.

Se a saudade aperta, há a expectativa do reencontro. Não importa o que nos dizem e o quão contrárias sejam as notícias, o coração vive a expectativa da chegada de um momento novo. O coração sempre espera ansioso o reencontro com o coração do amigo. Não tenham medo, as distâncias se encurtarão e os corações poderão novamente se abraçar, mas é preciso manter viva a fé, a esperança e a caridade. E se agora nos afastamos um pouco, é para que o reencontro seja ainda melhor. Rezemos para que seja logo, com a graça de Deus. Sei que além de alguns padres e bispos, muitos fiéis estão clamando para o retorno das missas e celebrações, mas lembrem-se dos esportistas neste momento: atletas treinando sozinhos, para salvar toda a equipe.

Pela intercessão da Bem-Aventurada virgem Maria, Mãe da Igreja, a Senhora Aparecida e São Mateus, o glorioso Apóstolo, abençoe-vos Deus Nosso Senhor, hoje e por toda a eternidade. Amém. 

DOM PAULO BOSI DAL’BÓ
BISPO DIOCESANO

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