Formação Litúrgica, Ficha 28: Sobre o lugar da liturgia na espiritualidade cristã

Sobre o lugar da liturgia na espiritualidade cristã
Formação Litúrgica em Mutirão - CNBB - rede celebra - revista de liturgia
Ficha 28

Ione Buyst

Com tantas propostas de espiritualidade hoje em dia, será que é o caso de apresentar ‘mais uma’? Em toda a trajetória do povo de Deus da antiga Aliança, a mística ou espiritualidade está sempre ligada com as assembleias, solenes ou cotidianas, que o povo faz, atendendo à convocação de seu Deus para encontrar-se com Ele, ouvir sua Palavra e colocá-la em prática, comprometer-se com seu projeto. O povo chora suas dores, implora ajuda, festeja as vitórias, pede perdão, celebra a aliança e sai fortalecido na fé no Deus Libertador.

Mas há momentos também em que as liturgias merecem as críticas dos profetas, por não estarem ligadas com a realidade do povo, por não engajar o povo na luta, por não reforçar o projeto da Aliança de Deus. As comunidades da Nova Aliança reúnem-se para fazer memória de Jesus (anámnese), invocando a ação do Espírito Santo sobre a comunidade (epíclese). A partir daí, profundamente unidas a Jesus, o Crucificado-Ressuscitado, vivendo e crescendo em sua intimidade, os cristãos se tornam testemunhas vivas do Cristo; anunciam e propagam a boa nova do Reino de Deus. Os escritos do Novo Testamento nos oferecem indicações preciosas sobre estas reuniões litúrgicas do novo povo de Deus que eram como que o coração de sua vida e missão[1].

E hoje? Como fazer celebrações verdadeiras, autênticas, orantes, proféticas, ligadas com a vida e a luta dos pobres, em continuidade com a tradição genuína do povo de Deus? Como fazer para que alimentem nossa espiritualidade, nossa mística, nossa ligação com o Deus da Aliança, o Deus dos pobres, nosso seguimento de Jesus? Como redescobrir a liturgia como fonte de nossa espiritualidade cristã?

De fato, muitas vezes, espiritualidade e liturgia caminham separadas em nossa vida. Isto tem uma explicação histórica: durante séculos, a liturgia ficou confinada nas mãos do clero, era celebrada em latim, com ritos estranhos à cultura dos povos que iam sendo ‘evangelizados’. O povo, impedido de participar da liturgia, foi criando outras formas para expressar seu amor a Deus e sua devoção, como: procissões, terço, via-sacra, danças, folias, congadas... Ao longo dos tempos, foram surgindo uma série de ‘espiritualidades’, a maior parte delas sem ligação com a liturgia. No início do século XX, o movimento litúrgico, bíblico e ecumênico foi abrindo espaços e colocando as bases para que, pouco a pouco, o povo de Deus fosse tomando consciência de sua missão de povo sacerdotal ao celebrar a memória de Jesus Cristo, cantar os louvores de Deus e interceder pelo mundo inteiro, na ardorosa expectativa da vinda do Reino de Deus entre nós.

A abertura para liturgias celebradas na língua do povo, na linguagem poética, musical e gestual, própria de cada cultura, torna possível que o povo volte a beber da liturgia como “primeira e necessária fonte do espírito verdadeiramente cristão”.

Perguntas para a reflexão pessoal e em grupos:

  1. Na tradição bíblica, as celebrações têm algum papel na espiritualidade? Qual?
  2. Por que alguns profetas criticaram algumas liturgias?
  3. Por que a espiritualidade ficou tanto tempo separada da liturgia e o que foi colocado em seu lugar?

Fonte: CNBB - www.cnbb.org.br

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