A devoção do povo católico para com a Santíssima Mãe de Jesus: Maria é na direção do amor ao Filho Jesus. “Jesus é a nossa bússola, o mapa para se chegar à Salvação”. Nenhum católico ignora isso, muito menos o rejeita. Algumas citações que confirma o seu e o nosso pensamento, a sua e a nossa fé: 1Tm 2,5: “Pois há um só Deus e também um só mediador entre Deus e os homens, um homem: Jesus Cristo”; At 4,12: “Não há nenhuma salvação, a não ser nele; pois não há sob o céu nenhum outro nome oferecido aos homens, que seja necessário à nossa salvação.”
O equívoco de muitos consiste em entender que, a intercessão dos santos exclui a mediação salvífica do Cristo. Não! De jeito nenhum! O que nós cremos, e incontáveis fatos comprovam é que, a intercessão dos santos, e de Maria, é claro, se dá no Cristo e não fora dele. Portanto, é junto com Cristo, Nele e por Ele que os que nos precederam na morte e ressurreição intercedem a Deus.
Leia em Ap. 6,9-10: “Quando abriu o quinto selo, vi sob o altar as almas dos que tinham sido imolados por causa da palavra de Deus e do testemunho que tinham dado. Eles gritavam com voz forte: Até quando, soberano Santo e verdadeiro, tardarás a fazer justiça, vingando nosso sangue contra os habitantes da terra?” E ainda em Mt 19,28: “Em verdade, eu vos digo: por ocasião da renovação de todas as coisas, quando o filho do homem tomar assento no seu trono de glória, vós que me seguistes, também vos assentareis em doze tronos para julgar as doze tribos de Israel.”
Como se vê, temos muitos outros textos sagrados que fundamentam a fé da Igreja Católica no que diz respeito a essa temática, mas prefiro contextualizar os textos que falam da idolatria, da proibição de imagens, sobretudo no Primeiro Testamento, o que o amigo não fez, talvez por desconhecimento.
É sabido que o Povo de Israel e a fé deste mesmo povo no Deus único e verdadeiro foi se afirmando no meio de outros povos politeístas, ou seja, gente que acreditava e cultuava a vários deuses, aos quais a Bíblia Sagrada se refere com o nome de deuses ou ídolos. Tratava-se dos deuses ou ídolos dos egípcios, cananeus, assírios, babilônicos, persas e mais perto do tempo de Jesus, dos gregos e romanos. São essas imagens de deuses ou ídolos que poderiam influenciar a fé de Israel no Deus único e verdadeiro – JAVÉ. Havia ainda um outro perigo, que era o de tentar produzir imagens que pudessem representar o Deus de Israel, o que o colocaria no mesmo nível dos demais deuses ou ídolos, uma vez que eram produzidos por mãos humanas. E um deus produzidos por mãos humanas não passa de uma obra de um artista, que pode ser instrumentalizada pelos seus criadores em vista de seus interesses. Javé não é obra de mãos humanas, nem poderia ser representado em sua grandeza e poder por nenhuma imagem esculpida por mãos humanas.
A proibição se entende nesse contexto: o perigo de igualar o Deus de Israel aos deuses e ídolos falsos dos pagãos. Nesse sentido há muitos textos que ilustram o que explicitei acima, como por exemplo, Ex 20,4: “Não faça para você ídolos, nenhuma representação daquilo que existe no céu e na terra ou nas águas... Não se prostre diante desses deuses, nem sirva a eles...” ou outros que seguem: Ex 34,14.17; Lv 19,4; Lv 26,1; Dt 4,15-20; Is 40,19; Is 42,17; Is 44,9ss; Ez 20,7; Jr10,14; Os 13,2; Hab 2,18-19; At 15,20; Rm 1,23; 1Cor 10,14.
Como se vê, não omito os textos que falam da proibição de imagens. No entanto, tenho o conhecimento do contexto em que foram escritos e o grande perigo que se queria evitar: a crença politeísta.
Mas, a mesma Escritura Sagrada que proíbe a confecção de imagens, as manda fazer num outro momento e para outras finalidades que não causam perigo àquilo que o Senhor Deus queria resguardar: o amor incondicional e exclusivo a Ele, o Deus dos Patriarcas, o Deus único verdadeiro. Eis alguns textos que indicam que imagens foram feitas a pedido do mesmo Deus, num contexto diferente: 1Rs 6,29: “Salomão mandou esculpir figuras de querubins, palmeiras e flores ao redor de todas as paredes do templo, tanto por fora como por dentro”; 1Rs 7,29: “Sobre as molduras havia touros, leões e querubins, e sobre as travessas havia um suporte; abaixo dos leões e dos touros havia grinaldas em forma de festões”; Nm 21,8-9: “Javé respondeu a Moisés: Faça uma serpente e coloque-a sobre um porte: quem for mordido e olhar para ela, ficará curado.” Confira outras citações: Ex 26,31-33; 1Sm 4,4; 2Sm 6,2; Sl 98,1. Estas imagens, agora num outro contexto exaltam a glória de Javé, no templo sobretudo. Como se pode ver, não há aqui perigo de Idolatria.
Chego aonde desejo: às imagens dos Santos Cristãos. Se grinaldas, festões, bois, leões, flores, palmas, querubins servem para enfeitar o templo de Javé e exaltam a sua glória, tanto mais a exaltam a vida, a fidelidade, o amor, o testemunho, as obras, o sangue e a fé dos seguidores de seu Filho e Senhor Nosso Jesus Cristo.
Não precisa ser letrado para perceber uma grande e clara distinção entre idolatrar ídolos ou deuses e venerar, fazer memória de pessoas que deram o melhor se si, suas vidas por amor ao Filho Único do Deus Único e Verdadeiro. Idolatrar, significa substituir, colocar no lugar de Deus algo ou alguém. Venerar, fazer memória significa não deixar cair no esquecimento aqueles(as) que testemunharam com a própria vida o mais puro amor de Deus. É isso que faz a Igreja Católica. É o que faremos sempre. Esse é um tesouro que continuaremos a guardar sabendo que ele se renova sempre com a inclusão dos santos do nosso tempo. E mais ainda, o faremos respaldados na Sagrada Escritura, que nos diz em 1Cor 11,1; Fil 3,17: “Sede meus imitadores, como eu o sou de Cristo” – palavras do apóstolo Paulo. Em Hb 13,7 lemos: “Lembrai-vos dos vossos dirigentes, que vos anunciaram a palavra de Deus; considerai como terminou a sua vida e imitai a sua fé”.
Que bonito e que bom que temos tantos exemplos a serem seguidos, imitados. Suas imagens, pinturas nos ajudam a conservar sua memória. Se seguirmos seus exemplos chegaremos a Cristo e por Ele ao Pai. Eles nos precederam nesse caminho de seguimento e vitória. Por isso formam “uma imensa multidão ... com vestes e palmas na mão... De onde vieram?... Eles vieram da grande tribulação. Lavaram e alvejaram suas vestes no sangue do Cordeiro. Por isso encontram-se diante do trono de Deus...” (Ap 7,9-15). Confira outros textos que confirmam a nossa prática de valorizar o exemplo dos santos: 1Cor 4,16-17; 1Ts 4,1; 2Tm 1,8-13; Jo2,3-5; Ef 4,11-13.
Caríssimos irmãos em Cristo, não são ‘imagens de gesso inanimadas que não falam, não pensam, nem se movimentam’ que veneramos, que fazemos memória e que acreditamos estarem ao lado de Cristo no céu a interceder junto com Ele por nós. Não! Essas imagens são apenas representações de pessoas que amaram Cristo e seus irmãos, e que estão muito vivas diante dele. Afinal, acreditamos que Ele não é o Deus de mortos, mas dos vivos, pois Ele mesmo nos garantiu: “Todo aquele que vive e crê em mim não morrerá jamais”. (Jo 6,26).
Acreditamos também e professamos nossa fé na comunhão dos santos que ultrapassa os limites de tempo e espaço, e que por isso mesmo, podemos orar uns pelos outros, isto é, pelos santos que estão a caminho nesta vida, que são todos os batizados e pelos santos que estão na glória de Deus, e eles por nós.
Concluo esta reflexão dizendo que nos orgulhamos dos exemplos de santidade que marcaram a vida da Igreja de Cristo nestes anos de caminhada. Nós nos orgulhamos de poder tomá-los como modelos de seguimento a Jesus. E somos gratos pelas inúmeras bênçãos e graças alcançadas de Deus, Fonte e Origem de toda graça, pela intercessão de nossos Santos e da Virgem Maria. Contra fatos não há argumentos.
“Quem tem ouvidos ouça.” (Mt 13,43)
“Quem puder entender, entenda.” (Mt 19,12)
Dom Ailton Menegussi.
Bispo de Crateús
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