Formação Litúrgica, Ficha 34: O Desafio da Espiritualidade Comunitária

O DESAFIO DA ESPIRITUALIDADE COMUNITÁRIA
Formação Litúrgica em Mutirão - CNBB - rede celebra - revista de liturgia
Ficha 34

Ione Buyst

Depois de séculos de uma espiritualidade desligada da liturgia, centrada no indivíduo, situação agravada mais ainda pela cultura do individualismo e do 'cada um por si' na qual vivemos imersos hoje, está sendo difícil para nós voltarmos a uma espiritualidade comunitária do encontro com Deus na reunião litúrgica da comunidade! É preciso uma verdadeira conversão e um novo aprendizado! Há três pontos essenciais que estão em jogo:

1) devemos passar de um conceito psicológicode espiritualidade (espiritualidade como motivação) para um conceito teológico (espiritualidade como vida no Espírito de Jesus Cristo);
2) é preciso passar de uma espiritualidade individualista para uma espiritualidade vivida comunitariamente;
3) devemos redescobrir a 'dobradinha' espiritualidade-corporeidade, própria da estrutura sacramental da revelação cristã e, portanto, também da liturgia 2. Ou seja, na liturgia, o Espírito vem e nos transforma enquanto participamos (ativa, exterior e interiormente, conscientemente, plena e frutuosamente, pessoal e comunitariamente...) da liturgia como ação simbólica e ritual. É o Espírito do Cristo Ressuscitado. Fomos mergulhados nele no batismo, ungidos com ele na confirmação. A cada liturgia da Palavra, o Espírito está pronto para nos fazer compreender o texto bíblico como uma palavra viva de Deus para nós hoje; quer aquecer nosso coração, assim como fez com os dois discípulos de Emaús; suscita uma resposta a Deus na oração e no compromisso com o Reino. Toda vez que celebramos a ceia do Senhor, o Espírito Santo aí está para fazer de nós um só Corpo em Cristo, ao partilharmos e comermos do Pão e bebermos juntos o Vinho eucarísticos. Quando cantamos o Ofício Divino, é ele que faz o Cristo cantar em nós, louvar a Deus e colocar diante dele as necessidades do mundo inteiro.

Mas, para que isso aconteça, outras três coisas são necessárias:

1) que os ministros e ministras que conduzem a liturgia saibam fazer acontecer 'liturgias espirituais';
2) que cada um e cada uma de nós, aprendamos a participar espiritualmente, e não apenas 'corporalmente' ou 'psicologicamente' das celebrações;

3) que levemos muito a sério a formação espiritual-litúrgica, em todos os espaços eclesiais: na catequese de crianças, jovens e adultos, na formação dos ministros e ministras, principalmente na preparação das equipes de liturgia, utilizando métodos já provados, como leitura orante da Bíblia e dos textos litúrgicos, meditação litúrgica com hinos, salmos e cânticos, "laboratório litúrgico" 3, vivências. Em tudo isso, devemos deixar-nos guiar pelo Espírito, superando o formalismo e a frieza no relacionamento com Deus e com os irmãos e irmãs, superando também as emoções fáceis e superficiais. Afinal, onde o Espírito quer nos levar? Na mudança pascal de nossas vidas, no seguimento de Jesus Cristo, na continuidade da missão na organização dos pobres, fortalecendo sua união e suas lutas por cidadania, por participação na Igreja e na sociedade, rumo ao Reino de Deus.

Entendida desta forma, a liturgia da comunidade é a fonte da qual juntos bebemos a água viva que Cristo nos oferece (cf. Jo 4,7-14), uma água que jorra para a vida eterna; jorra do alto da cruz (Jo 19,31-37; Jo 7,37-39) e do trono de Deus e do Cordeiro (Ap 22,1-2) e vem para dar vida a todas as nações. Beba desta fonte você também!

Perguntas para a reflexão pessoal e em grupos:

  1. De que maneira o Espírito Santo nos transforma e renova constantemente, nas celebrações litúrgicas, em seguidores fiéis de Jesus Cristo?
  2. Isto está acontecendo em nossa comunidade? Sim? Não? Por que? O que podemos melhorar?


1 Outros textos relacionados: Ione BUYST, Liturgia, de coração, São Paulo, Paulus, 2003; Ione BUYST, Espiritualidade Litúrgica, In: Revista de Cultura Teológica, Centro Universitário Assunção, junho 2003.
2 Leiam mais sobre o assunto: Ione BUYST, 'Alguém me tocou!', sobre a sacramentalidade da liturgia na Sacrosanctum Concilium (SC), Constituição conciliar sobre a Sagrada Liturgia, Revista de Liturgia, São Paulo, n. 176, pp. 4-9, mar./abr. 2003.
3 ORMONDE, Domingos. Laboratório litúrgico: o que é, como se faz, por quê? RL São Paulo, 20 (122):34-5, mar./abr. 1994. Também In: CENTRO DE LITURGIA, Faculdade de teologia Nossa Senhora da Assunção. Formação litúrgica; como fazer? São Paulo, Paulus, 1994, p. 36-41; BARONTO, Luiz Eduardo P., Laboratório Litúrgico, pela inteireza do ser na vivència ritual, São Paulo, Ed. Salesiana, 2000.

Artigo publicado In: SECRETARIADO NACIONAL DO 11. INTERECLESIAL DAS CEBs. CEBs: Espiritualidade libertadora; seguir Jesus no compromisso com os excluídos - Texto-base do 11. Belo Horizonte, Editora O Lutador, 2004, p. 113.

Fonte: CNBB 

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